terça-feira, 12 de março de 2013

à meu avô

antes
Certa vez, tivemos que cortar uma velha árvore que ficava na frente da minha casa. Nunca pude imaginar, a rua da minha casa sem aquela grande árvore que acompanhou toda a minha formação. Mas agora ela estava velha.
  Perguntava-me "Será que ela estava sofrendo, seca daquele jeito?" 
no fim
  Meu pai pensou corta-la, estava fazendo bagunça demais, e ameaçava cair em cima da casa.  As folhas que caiam dela eram numerosas, invadiam o interior da casa como um turbilhão verde. A empregada não gostava, porque sujava demais. 
  Chegou o dia do corte.
   Começamos a cortar o tronco - cuidadosamente estudado o ângulo -, porém algo interrompeu. Não tínhamos o documento da prefeitura. O fiscal interrompeu o corte.

   "Apenas o Estado deve fazer o corte de árvores próximas a calçada, a ele também pertence a madeira" disse o fiscal.
   A árvore passou décadas conosco, nós cuidamos dela, fizemos mutirões de limpeza nos finais de semana para cuidarmos da árvore, podávamos ela quando precisava, arrancávamos as ervas daninhas que cresciam em suas raízes. Mas de fato chegou a hora de ela partir. Porém não podíamos tirar seu sofrimento, pois o Estado se acha dono de tudo e de todos.
O Estado, como a maioria das Instituições, se acha dono de tudo, até das estrelas. O livro O Pequeno príncipe, de Antoine de Saint[que é parcialmente reproduzido aqui] mostra bem o pensamento desse empresário.

Era uma vez um empresário.
Era uma vez um pequeno e jovem príncipe príncipe.


Um jovem príncipe saiu de seu pequeno asteroide a fim de descobrir o mundo afora. Chegou a um pequeno planeta. Neste planeta havia um empresário, que pensava ser dono de todas as estrelas. 



 O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não
levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
- Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e
sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo.
Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf ! São pois quinhentos e um milhões, seiscentos e
vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.
- Quinhentos milhões de quê?
- Hem? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de... eu não sei mais ... Tenho
tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de quê? repetiu o principezinho, que nunca na sua vida
renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.
O homem de negócios levantou a cabeça:
Há cinqüenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes.
A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um
barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma
crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito
sério. A terceira... é esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões...
- Milhões de quê?
O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz:
- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.
- Moscas?
- Não, não. Essas coisinhas que brilham.
- Abelhas?
- Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou
um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.
Ah estrelas?
- Isso mesmo. Estrelas.
- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas
- Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil, setecentos e trinta e uma.
Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.
- E que fazes tu dessas estrelas?
- Que faço delas?
- Nada. Eu as possuo.
- Tu possuis as estrelas?
- Sim.
- Mas eu já vi um rei que ...
- Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente
- E de que te serve possuir as estrelas?
- Serve-me para ser rico
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
Esse aí, disse o principezinho para si mesmo, raciocina um pouco como o bêbado -
No entanto, fez ainda algumas perguntas.
Como pode a gente possuir as estrelas?
De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios
- Eu não sei. De ninguém.
- Logo são minhas, porque pensei primeiro.
- Basta isso?
Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando
achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia primeiro, tu a
fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de
mim teve a idéia de as possuir.
Isso é verdade, disse o principezinho. E que fazes tu com elas?
Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios. É difícil. Mas
eu sou um homem sério!
O principezinho ainda não estava satisfeito.
Eu, se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Se
possuo uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as
estrelas.
Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
Que quer dizer isto?
Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o numero das minhas estrelas.
Depois tranco o papel a chave numa gaveta.
- Só isto?
- E basta...
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, idéias muito diversas das idéias das
pessoas grandes.
- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões
que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe.
É útil para os meus vulcões, e útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não
és útil às estrelas ...
O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o
principezinho se foi ...
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso
da viagem.


  O Empresário gosta de vender e comprar. Tudo isso ele faz com o dinheiro. Dinheiro é feito de papel, papel vem das árvores. Os homens cortam árvores afim de conseguir dinheiro, para enfim serem escravizados. 
 Acho as árvores mais bonitas que o dinheiro, mas esse lindo quadro[as árvores] não servem de moeda de troca, não serve de "progresso". 
  As árvores são belas ao meu ver. Porém quando secam[como a antiga árvore que ficava em frente a minha casa], perdem a beleza, não fazem mais a alimentação dos olhos. Logo temos que corta-las, afim de plantar outra. Assim é o ciclo das coisas efêmeras - finitas -, mas é triste quando não se pode fazer o melhor para quem a gente ama quando finda a vida. Esse é o papel das corporações, espalhar infelicidade, limitar a liberdade. Provavelmente você deve ter achado fútil o assunto focalizado na árvore sobre qual estou escrevendo, na verdade, você perdeu a visão de toda a beleza que existe ao seu redor, você não vê, você julga segundo o que você aprendeu. 
 Um conjunto de corporações fizeram isso em você. Olhe o esquema a seguir:

    Escola                +              TV              +    Preconceitos          =   Indivíduo fútil
  [agente desestimulante             [meio que torna                     [inúmeros]
   da criatividade]                       até o mais belo, fútil]  


Com meu avô[Vergílio Novak]  aconteceu a mesma coisa, ele era uma árvore, fizemos mutirões, cuidávamos dela. Não pudemos corta-lo[dar fim a vida] quando ele teve derrame e entrou em estado vegetativo. Um conjunto de médicos[da corporação hospital] impediram que isso acontecesse.