segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O quarto escuro de Deus

Era uma vez, um sultão.
Era uma vez sua amada.
Foi uma vez...


Um sultão, daqueles que vivem na Índia. Ele já tinha seus quarenta anos, vestia-se sempre com seu linho branco, já havia vivido muito e construído um luxuoso palácio, se apaixonou por uma humilde comerciante de frutas. Todos os dias, sobre os seus cabelos dourados ela trazia frescas frutas para o palácio. O amor contagiou os dois e eles se casaram.
    Doce  amor bonito era o do casal, quando um olhava para o outro a aura amorosa resplandecia.
O negócio que movia a cidade era o cultivo de grãos, as negociações de venda de estoque deveriam ser analisadas a cada dez anos, uma contabilidade de impostos era feita a cada sete anos, para assim realizar o reajuste dos mesmos, pois eram os impostos que mantinham todo o luxuosos palácio, famoso por sua perfeição que tinha cem luxuosos quartos.
 Era já tempo de tal contabilidade ser feita.
  O lugar onde iria partir o sultão era distante e demorava dias para a volta da viagem. Antes de partir, o sultão tomou de seu cofre particular um molho de chaves o deu para a sua esposa. O molho tinha cem chaves, noventa e nove delas eram de ouro, uma era de ferro enferrujado - chave que parecia ser vitalícia.
  Ele disse que a esposa poderia abrir os noventa e nove quartos que tinham chave de ouro, porém aquele que tiver chave de ferro a esposa não deve abrir.
  A esposa abriu os noventa e nove quartos, alguns quartos eram dormitórios dos mais variados, alguns guardavam relíquias antigas e curiosas, alguns guardavam papiros de um conhecimento avançado. Demoraram quatro dias para ter aberto o nonagésimo nono quarto, depois disso ela não hesitou, abriu a velha porta de madeira vermelha  do centésimo quarto, aquele que a chave de ferro abria.
O que ela encontrou no centésimo quarto era de um cenário desolador e horripilante. Uma fera devorando um carneiro. Um grande lobo negro de olhos vermelhos em forma de homem vestido de linho branco devorando um ensanguentado carneiro.
  Quando a fera olhou para a mulher, seus olhos se encheram de sangue e de ódio.
A mulher desesperadamente agarrou a porta e trancou-la. Ela foi correndo para a sua cama e não conseguiu dormir sem que um pesadelo lhe afrontasse.
Percebeu que a fera era o seu marido, pois as feições no rosto, a roupa, os olhos, indicavam.
Logo de manhã, o marido voltou para casa. O olhar amável da esposa não era mais o mesmo, quanto ela pensava no marido, automaticamente vinha-lhe a imagem do lobisomem de olhos vermelhos. O amor acabou, a alegria se foi para a esposa.
O Sultão pediu a esposa as chaves que ele havia lhe dado. Estavam todas as cem chaves ali, mas uma chave estava diferente, uma chave estava manchada, manchada de sangue. Percebendo isso, o Sultão caiu em prantos, sua amada não mais lhe amava, pois descobriu o quarto escuro de sua alma.


Todos nós somos assim. Todos temos um quarto escuro em nossa alma, na esperança de querer esconde-lo, mentimos até para nós mesmos. mas esse quarto sempre permanecerá.

Penso que até com Deus é assim, apenas uma arvore não se podia desfrutar no paraíso, apenas um conhecimento não se pode ter, o da desigualdade. A serpente seduziu o homem a comer o fruto com o argumento de que "se você comer do fruto, será igual a Deus", vendo a desigualdade, ele comeu do fruto , comendo o fruto ele viu que Deus não andava nu, sentiu inveja de Deus.
   A desigualdade é o quarto escuro de Deus, por mais que ele nos ame, ele não pode esconder as desigualdades, ele pode ameniza-las, mas não consegue acabar com elas. Ele quer, mas é impossível, pois se não somos iguais, logo somos desiguais.
Apenas depois da morte podemos consumir com a chave de tal quarto, poderemos pular nos braços de Deus e ter a felicidade plena. Muitos dirão que "existe inferno, há uma seleção chamada juízo final", mas essas pessoas que afirmam essas coisas são as mesmas que fazem todo um teatro em cima do dinheiro do povo, essas pessoas não são abertas a outras opiniões, é o que elas dizem e pronto.
  Sinceramente, um Deus que tem uma câmara de tortura chamada inferno não merece minha adoração, e acredito que não tem nenhum amor para dar.
  Acredito que Deus é na verdade a beleza. Deus está tanto no voar de uma ave de rapina quanto em toda a desigual luta de poder na natureza. A beleza está na em apenas tons azuis e brancos? Não. Ela está no resplandecente por do sol, está no azul e no cinza do céu. O que seria do mundo se ele fosse apenas azul, ou cinza?






   

Um comentário:

  1. Não vejo relação entre Deus e o Sultão do texto. Segundo a Bíblia, Deus nos dá a opção de escolher entre ele e o mau, e só quem rejeitar o sacrifício de Cristo demonstrado na Bíblia deve ser punido. Rejeitar o sacrifício de Jesus é uma atitude má, é ignorar o sofrimento de Deus para nossa liberdade e salvação. O inferno é como se fosse uma prisão para os homens maus, não uma câmara de tortura onde Deus simplesmente joga pessoas para serem devoradas por "lobos de olhos vermelhos".

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